O Instagram, em sua política para usuários, proíbe a nudez em geral e a nudez dos seios femininos. Homens são autorizados a postarem fotos sem camisa, com os mamilos à mostra, mas as mulheres só podem se censurarem os seus mamilos.
Essa restrição persiste ainda que em posts informativos sobre câncer de mama e outras questões vinculadas à saúde da mulher, não se atendo a uma restrição do exercício da liberdade e sexualidade.
Com isso, a rede social mostra que há uma sexualização do corpo feminino, independente do intuito ou vontade do(a) autor(a) da publicação, prevalecendo o olhar masculino sobre os corpos femininos.
Essa questão não afeta somente as campanhas de conscientização do câncer de mama, mas campanhas sobre a importância da amamentação, questões sobre sexualidade da população LGBTQIA+ e expressões artísticas e culturais das mulheres.
A sexualização ininterrupta do corpo das mulheres só encontra um alívio social, se aquele corpo servir a algum propósito “maior”, tal como amamentar ou alertar sobre o câncer de mama. Ou seja, persiste a objetificação feminina, em que o corpo só é validado pela sociedade porque está alimentando alguém ou informando alguém sobre uma doença. A livre expressão do corpo, um corpo sem regras e sem tabus, não existe. Esse mencionado alívio, no entanto, não se aplica ao Instagram.
Quando há clamor pela liberdade sexual feminina, o cenário fica ainda pior. As mulheres que querem exercitar sua sensualidade, sua sexualidade de forma pública, são amplamente julgadas em razão da “vulgaridade” e da necessidade de se adaptarem ao papel da “boa mulher”, que não confronta as expectativas sociais.
Enquanto uma Associação que visa a emancipação das mulheres, inclusive com relação ao exercício da sua sexualidade, as Mulheres de Peito se posicionam institucionalmente contra os julgamentos conservadores que visam limitar as expressões de todas as mulheres.
O câncer de mama suscita uma mudança de visão das mulheres sobre o próprio corpo, sobre os seios, sobre sexualidade. A funcionalidade, a estética, o desejo, a sensualidade, a exposição do corpo passam a ser pensadas por outros filtros, de forma que os julgamentos sociais podem passar a ter menor relevância. Ou podem adquirir uma relevância ainda maior e levar a disfunções sexuais e de imagem. A nossa luta é para que a alternativa a ser seguida seja a primeira mencionada.
Questionar as políticas das redes sociais, bem como o comportamento da sociedade, é imprescindível para gerar mudanças na seara oncológica, levando em consideração que enquanto os seios forem um tabu, o câncer de mama também será.
A luta pela liberdade corporal das mulheres não é só para o corpo funcional, que alimenta, que informa. É uma luta pelo corpo completo, da mulher em todas as suas potencialidades: mulher, amiga, mãe, filha, sensual, dançante, vivente, vibrante, LIVRE.
Clara Adão